Teoria excelente a de Michel Pêcheux em O Discurso: Estrutura ou Acontecimento, tenho aprendido muito com ele, mas há problemas de comunicação em sua obra… falta didática.
Pêcheux é conhecido por suas contribuições teóricas significativas no campo da Análise do Discurso, mas também é reconhecido por usar uma linguagem complexa e às vezes densa em seus escritos. A falta de didática em suas obras pode ser um desafio para muitos leitores que buscam entender suas ideias.
Isso é uma preocupação comum em muitos campos acadêmicos, nos quais teóricos e pesquisadores podem ter dificuldade em comunicar suas ideias de maneira acessível para um público mais amplo. O que pode limitar a disseminação de suas teorias e dificultar o acesso a percepções valiosas.
Ressalto que a complexidade da escrita acadêmica, muitas vezes, reflete a natureza intrincada dos conceitos teóricos que estão sendo discutidos. No entanto, a busca por maior clareza e didática é sempre uma aspiração válida, especialmente se o objetivo é tornar as ideias acessíveis a um público mais amplo, incluindo estudantes, pesquisadores iniciantes e interessados em geral.
Alguns autores e professores trabalham para traduzir e interpretar teorias complexas em linguagem mais acessível, por meio de resumos, artigos explicativos e palestras. Isso ajuda a tornar as ideias teóricas mais compreensíveis e úteis para uma variedade de públicos.
Minha tentativa em entender Achard
Pierre Achard (outro que não sabe se expressar bem mas com excelente teoria) — em Memória e Produção Discursiva do Sentido, no livro O Papel da Memória — para ilustrar a dialética entre a repetição e a regularização (p. 15), usou um exemplo de uma série numérica. Eu interpreto da seguinte forma:
Ele faz uma comparação imaginária para explicar algo sobre padrões em números. Começa falando sobre a relação entre “repetição” e “regularização”. A repetição é quando algo acontece de novo e de novo, enquanto a regularização é quando algo se torna mais constante e previsível.
O autor usa uma analogia com um conceito chamado “topologia”, que é como dobrar e esticar coisas sem rasgá-las. Imagina que temos uma série de números como 0, 1/2, 2/3, 3/4, e assim por diante. Ele quer mostrar que essa série de números se aproxima do número 1.
Aqui está o ponto chave: Ele diz que essa série se aproxima de 1 porque, se imaginarmos uma “vizinhança” do número 1 (pense nisso como um intervalo de números perto de 1), quase todos os números da série estão dentro dessa vizinhança. Porém, alguns poucos números estão fora dessa vizinhança.
Para tornar isso mais claro, ele usa uma fórmula matemática para a série s = (n – 1)/n. O autor mostra que se você pegar todos os números entre 0.999999999 e 1.000000001, quase todos os números da série estão lá, exceto um número pequeno (os primeiros 1.000.000.000 números).
Então, Achard conclui que a série se aproxima de 1 porque ele conseguiu mostrar que quase todos os números da série estão muito próximos de 1 usando essa regra matemática, mesmo que ele não tenha listado todos os números individualmente.
Basicamente, ele está usando essa comparação para explicar como podemos entender que a série se aproxima de 1 usando regras matemáticas, em vez de listar todos os números da série um por um. Isso ajuda a entender como padrões matemáticos podem ser estudados de maneira mais geral.
Alguns outros exemplos, caso eu venha escrever algo sobre, seriam:
Caminhada na chuva: Imagine que você está caminhando pela rua em um dia chuvoso. Você está indo em direção a um lugar, digamos, um café. À medida que se aproxima do café, você vai ficando cada vez mais molhado, porque a chuva está caindo sobre você. Você está “tendendo” a ficar mais molhado conforme se aproxima do café. Isso é como a série de números que está “tendendo” a 1, porque os números estão ficando mais próximos de 1 à medida que avançam.
Estudantes na sala de aula: Imagine que você tem uma sala de aula com muitos estudantes. Eles estão sentados em suas cadeiras, e você quer saber quantos deles têm cadernos azuis. Você vai perguntar a cada estudante individualmente sobre a cor do caderno deles? Não necessariamente. Você poderia contar quantos estudantes têm cadernos de outras cores, e o restante provavelmente tem cadernos azuis. Isso é como dizer que a série de números está se aproximando de 1. Em vez de verificar cada número individualmente, você está usando uma ideia geral para entender como eles se aproximam de 1.
Dardos ao alvo: Imagine que você está jogando dardos em um alvo circular. Quanto mais você joga os dardos, mais eles tendem a se acumular perto do centro do alvo. Isso acontece porque você está jogando repetidamente, e o padrão dos dardos está ficando mais regular conforme mais dardos são lançados. Da mesma forma, a série de números está se aproximando de 1 à medida que mais números são adicionados, e o padrão dos números fica mais previsível.
Esses exemplos, se é que eu entendi a teoria de Achard, tentam mostrar como a ideia de se aproximar de um valor, como 1, pode ser entendida de maneira mais simples sem depender de fórmulas matemáticas. É sobre observar padrões e comportamentos regulares em situações comuns.
O conceito discutido por Pierre Achard envolve uma forma de inferência, que é quando você chega a uma conclusão ou compreensão baseada em informações que você tem disponíveis. No exemplo dado, o autor está inferindo que a série de números está se aproximando do valor 1 com base na observação de padrões e regularidades. Em outras palavras, ele não precisa listar todos os números da série individualmente para mostrar que eles estão se aproximando de 1. Ele chega a essa conclusão através de um processo de inferência, usando uma analogia imaginária e a ideia de vizinhança de números.
Espero ter acertado na interpretação. Gosto de entender a teoria para utilizá-la na prática e, depois, explicar para as pessoas. Tenho pensado muito — desde o início da pandemia e do governo absurdo que tivemos — que essa habilidade de simplificar conceitos complexos e expressar ideias de maneira clara e compreensível é cada vez mais essencial no mundo atual, pois competimos — a Educação — com tecnologias e dispositivos de entretenimento rasos e bastante viciantes. Simplificar não apenas facilita a comunicação, mas também torna os conceitos mais acessíveis a um público mais amplo, aumentando a compreensão e o engajamento, daí a pessoa poderá se aprofundar em caso de interesse.
Algumas razões pelas quais acho a simplificação valiosa:
Acessibilidade: Nem todos têm conhecimento prévio sobre um tópico. Ao simplificar, tornamos a informação acessível a pessoas com diferentes níveis de compreensão.
Clareza: Evitar jargões e linguagem complicada ajuda a evitar confusão e a garantir que a mensagem seja transmitida com clareza.
Engajamento: Quando as ideias são apresentadas de maneira simples, as pessoas são mais propensas a se envolver e interagir com o conteúdo.
Memorização: Conceitos simplificados são mais fáceis de lembrar e reter, pois são mais digeríveis para o cérebro.
Comunicação Eficiente: A simplicidade economiza tempo e esforço, tornando a comunicação mais eficaz, especialmente em situações em que as informações precisam ser transmitidas rapidamente.
Alcance Amplo: Ao evitar excesso de complexidade, podemos alcançar públicos mais amplos, incluindo aqueles que podem não ter um conhecimento especializado sobre o assunto.
Redução de Barreiras: A complexidade pode ser intimidante. A simplificação remove barreiras que podem desencorajar as pessoas de explorar ou aprender sobre um tópico.
Conexão Emocional: A simplicidade muitas vezes ressoa mais profundamente com as emoções das pessoas, criando uma conexão mais forte entre o conteúdo e o público.
O importante é se comunicar
Mesmo assim, acredito que o importante é a pessoa tentar se comunicar, como os grandes Pêcheux e Achard fizeram. Assim, outras pessoas poderão tentar resolver os “enigmas” e, dessa forma, espalharem a mensagem. Só é muito importante que busca pela simplicidade na comunicação seja uma abordagem valiosa para compartilhar ideias e informações com eficácia.
Como excelente exemplo, Eni Puccinelli Orlandi — uma renomada linguista brasileira e uma das figuras mais importantes na área da Análise do Discurso no Brasil — tem desempenhado um papel fundamental em tornar as teorias complexas de autores como Michel Pêcheux mais acessíveis para um público mais amplo, especialmente no contexto brasileiro — isso também é essencial! Quero saber da França, mas me interessa muito mais o Brasil.
Orlandi é conhecida não apenas por sua pesquisa significativa em Análise do Discurso, mas também por sua contribuição para a divulgação e ensino dessas teorias. Ela escreveu vários livros — estou lendo Discurso Fundador e adorando! — e artigos que explicam conceitos teóricos de maneira mais clara e didática, tornando-os mais compreensíveis para estudantes, pesquisadores e leitores em geral.
Seu trabalho tem sido fundamental e instrumental para ajudar a disseminar as ideias complexas da Análise do Discurso e torná-las mais relevantes e acessíveis no contexto brasileiro e internacional. Sua abordagem pedagógica e de divulgação tem sido muito valorizada por aqueles que buscam entender as nuances da análise do discurso e de outras teorias linguísticas complexas.
Simplificar informações é importante para torná-las acessíveis, mas também é fundamental ir além da mera simplificação.
Encerrando com alguns pontos contraditórios, neste contexto contemporâneo permeado por mídias superficiais — como vídeos curtos em plataformas como TikTok e Instagram, bem como conteúdos de entretenimento simplificado, como os memes de fácil assimilação mas cheios de não-ditos que significam e silenciam —, a Educação e a Ciência enfrentam desafios, ressaltando, assim, a necessidade de algo além da mera simplificação do conteúdo; torna-se crucial adotar uma abordagem que não apenas simplifique, mas que também estimule o pensamento crítico e a compreensão em profundidade.
A informação é frequentemente apresentada de maneira rápida, concisa e muitas vezes superficial, a Educação enfrenta desafios significativos. A necessidade de transmitir informações complexas, teorias e conceitos profundos pode entrar em conflito com a tendência de consumir informações de forma rápida e simplificada.
Abaixo, elenco tópicos de um vídeo que pretendo fazer sobre algumas abordagens que podem ser úteis para a educação em um contexto de mídias rasas:
Promover o Pensamento Crítico: Em vez de apenas apresentar fatos ou informações, é importante incentivar os estudantes a questionar, analisar e avaliar. Isso ajuda a desenvolver habilidades de pensamento crítico, permitindo que eles compreendam a profundidade de um tópico.
Contextualização: Ao relacionar conceitos complexos com situações do mundo real e exemplos concretos, os estudantes podem entender melhor a relevância e aplicação prática desses conceitos.
Conexões Interdisciplinares: Mostrar como conceitos complexos se interconectam com várias áreas do conhecimento pode ajudar os estudantes a enxergar a amplitude de um tópico e aprofundar sua compreensão.
Análise Detalhada: Em vez de apenas fornecer uma visão superficial de um tópico, permita que os estudantes explorem detalhadamente os elementos-chave. Isso pode ser feito por meio de discussões, análise de casos, estudos de texto, entre outros métodos.
Discussão e Debate: Incentivar os estudantes a discutir e debater sobre tópicos complexos ajuda a desenvolver uma compreensão mais completa, ao mesmo tempo em que promove o engajamento.
Desenvolvimento de Habilidades de Pesquisa: Ensinar os estudantes a buscar informações confiáveis e aprofundadas pode capacitá-los a ir além das informações rasas e a construir uma compreensão mais sólida.
Exploração Guiada: Ao invés de fornecer respostas prontas, guie os estudantes por meio de uma exploração ativa do tópico. Isso envolve fazer perguntas desafiadoras que os levem a investigar mais profundamente.
A Educação precisa equilibrar a necessidade de simplificar para tornar a informação acessível com a importância de cultivar uma compreensão significativa e crítica. O objetivo é não apenas transmitir conhecimento, mas também capacitar os estudantes a analisar, interpretar e aplicar esse conhecimento de maneira contextualizada e reflexiva.
Chegou sua vez!
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