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Como manter as crianças aprendendo e criando em tempos de quarentena

O momento é de cautela e distanciamento social, mas também é de aprendizado, criatividade e muita diversão com a futura geração.

Para quem não sabe, tenho um filho de 9 anos e, desde antes de nascer, venho o estimulando a aprender além do que a escola tradicional ensina. Acredito que, expondo-o a diversas formas de autoexpressão e autoaprendizado enquanto é jovem, o leque de habilidades que ele adquire agora o ajudará a se virar e a resolver os diversos problemas que o futuro trará.

Diante da pandemia de coronavírus que assolou o mundo, pensei em compartilhar esse processo com você para te ajudar a encontrar formas de manter crianças engajadas durante o período em que elas estarão em casa. Afinal, a TV só exibe notícias ruins e as deixar somente consumindo informações de forma passiva poderá causar efeitos indesejáveis como depressão e ansiedade.

Então vamos lá?

Começo com alguns serviços on-line gratuitos que utilizo diariamente para meu filho. Só com esses, há conteúdo para meses — até anos — de aprendizado e diversão:

Khan Academy

De forma 100% gratuita, você poderá criar um plano de aprendizado para sua criança com o conteúdo mais próximo do que ela possui na escola (serve desde o ensino fundamental até o médio). É uma biblioteca crescente de aulas de ciências, história, artes, matemática e até de extras como ciências da computação, finanças e um curso bem didático e prático de animação digital com o pessoal da Disney PIXAR!

As aulas teóricas são em forma de vídeos, textos e infográficos. As práticas são com exercícios como quizzes, testes e desafios.

Vale a pena demais passar pela Khan Academy com seus filhos pelo menos uma vez ao dia e — para conseguir melhor engajamento — começar por cursos com o da PIXAR, fazendo as aulas junto com eles. Tenho certeza de que você também aprenderá coisas novas e até se esquecerá por instantes da situação de restrição em que vivemos. Diga que a Khan é a escola do futuro e que poderão experimentá-la agora.

Duolingo

Para os pais que gostam de Game of Thrones e Jornada nas Estrelas, aprender High Valyrian e Klingon já deixará esse app num status bem interessante quanto à educação plurilíngue das crianças. O mais legal do Duolingo é que parece jogo de videogame e a repetição ajuda na memorização. O mascote Duo é muito carismático e o aprendizado de outro idioma é feito de maneira bem leve e divertida.

Sendo por celular, ou por desktop, as crianças podem escolher quais os idiomas se interessam e ainda é possível estabelecer uma meta diária de XP (pontos de experiência que são ganhos ao se completar tarefas).

Aqui em casa, todos criamos contas individuais — que são gratuitas — e ficamos dizendo uns aos outros o quanto evoluímos, quais recompensas ganhamos e quais as palavras e frases novas que aprendemos. É pura diversão aprender idiomas assim.

Code.org

É possível uma criança aprender Ciência da Computação? Sim! Com que idade essa criança pode começar? De quatro anos para cima. Isso mesmo, a Code.org é uma fundação sem fins lucrativos que busca expandir o conhecimento computacional a crianças, mulheres e outras minorias que, até então, só utilizavam a informática de forma passiva, como consumidores e não como criadores.

O conteúdo é apoiado por empresas de peso como Microsoft, Google, Amazon, Uber, várias renomadas universidades e uma comunidade ativa de programadores, designers e tradutores de todo o mundo. Graças a isso, as aulas são bem interativas e começam com instruções curtas em vídeo, logo partindo para a prática.

A criança — até o adulto — fica muito à vontade para mover blocos lógicos e resolver os problemas propostos, que vão evoluindo em complexidade numa curva de aprendizado bem tranquila. Para se ter uma noção, meu filho concluiu o primeiro curso com 4 anos de idade e ficou muito feliz quando imprimi o seu certificado. Atualmente, ele se vira muito bem com lógica de programação e até se aventura a criar joguinhos no Scratch — uma ferramenta que apresentarei com mais detalhes em posts futuros — e na engine Godot — que em breve lançarei um curso te ensinando a fazer seu primeiro jogo.

Criança também precisa se exercitar

Exercícios em casa

Sair ao ar livre e deixar as crianças soltas não é a opção que possuímos atualmente, então é hora de utilizar a criatividade e botar a meninada para suar. O importante aqui é não levar muito a sério o treino e aprendi isso da pior forma. Tentei ensinar kickboxing para meu filho quando ele tinha 5 anos, já que sou faixa roxa e fui instrutor dessa arte marcial. O problema é que a forma de abordagem não foi a melhor, eu queria seguir um rito mais disciplinado e ele só queria brincar.

O tempo passou e aprendi a lição, deixei-o socar errado, chutar todo desengonçado mas mantive o objetivo de fazer com que ele suasse. Nessa quarentena ele já está socando bonitinho o saco de pancadas, a diversão continua e ganhei um companheiro de treino.

Se não sabe arte marcial, coloque uma música e comece a dançar, que tal? Tenho certeza de que a criança também vai querer. Lembre-se que somos exemplos e elas aprendem nos imitando.

Outra coisa que minha esposa fez e que tem funcionado é, a cada hora, pararmos o que estivermos fazendo e começarmos a nos agitar, correr e pular por 5 minutos. Um vai chamando o outro e, com isso, além das calorias gastas, também espantamos o marasmo.

Mais uma dica: o YouTube está cheio de vídeos com exercícios para crianças, o importante mesmo é sacudir o esqueleto e liberar a endorfina. Como diria um antigo personagem de TV: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!”

E os joguinhos?

Antes de partir para os jogos eletrônicos, seria muito bom experimentar as opções abaixo:

Kids and Dragons

Que achado! Esse é um jogo de RPG (jogo de faz-de-conta) que dá para jogar com crianças e o resultado é criatividade à flor da pele e muitas horas imersas em mundos fantásticos cheios de magia e aventuras. O melhor é que ele é totalmente gratuito e você fica livre para criar a história que desejar.

Ao ler o material, uma limitação que surge pode ser a necessidade de dados específicos para RPG mas você resolverá isso facilmente com apps para celular que rolam os dados ou simplificando usando o clássico dado de 6 lados.

Eu já tinha experiência com RPG — mas mesmo quem não possui conseguirá aprender com a primeira história que já vem no manual — e isso me ajudou a implementar umas características no jogo que deixaram meu filho ainda mais engajado e aprendendo — por tabela — matemática, orientação espacial (coordenadas geográficas, direções, mapas…), resolução de problemas lógicos (com charadas para abrir portas e baús de tesouro), criação de personagens e contação de histórias.

Hora de desengavetar jogos de tabuleiros antigos

Esse é um excelente momento para trazer à tona brinquedos e jogos que as crianças não usam mais. Se você fizer uma busca em casa e apresentar os achados como se fossem uma incrível descoberta, melhor ainda. Devido à idade e outros brinquedos mais novos, algumas crianças nem se lembram mais dos antigos e você estará apresentando uma novidade a elas. Tenho certeza que funcionará em boa parte dos casos.

O grande segredo é iniciar a brincadeira, mostrar as possibilidades e deixar que se virem sozinhas depois de algum tempo.

Baralhos, damas, xadrez… os clássicos também divertem.

Um simples baralho ensina matemática, senso de organização e até memorização. As vantagens da dama, do xadrez e do ludo nem preciso dizer, né? E o legal é que geralmente todo mundo tem um desses em casa. A ideia por trás desse post é realmente te mostrar que dá para fazer muita coisa em casa sem ter que comprar nada fora e também sem gastos desnecessários.

Se a forma tradicional do jogo não anima a criança, use a criatividade e transforme as peças do xadrez em personagens num castelo medieval construído com dominós, ou baralhos, e os tabuleiros como terrenos inexplorados… não custa inventar, né?

Peças de LEGO e pinos mágicos também ajudarão a incrementar as aventuras.

Agora, a melhor parte, ARTE!

Papel e lápis

Isso todo mundo tem, né? Aqui vale desenhar qualquer coisa, até o coronavírus — se for o caso, aproveite para informar a importância de lavar as mãos e de evitar a proximidade com possíveis visitas.

As crianças estão com o material escolar em casa parado, muitos lápis de cor e cheios de vontade de criar. Que tal uma gincana com desenho por dia com um tema específico? Que tal fazer depois uma exposição na sala com os desenhos que fizerem? É muito importante elogiar o esforço e estimular com ideias caso as da criança se esgotem.

Pintura

Se você tiver pincéis e tintas em casa, melhor ainda. E, cá entre nós, não se preocupe com o tipo de papel disponível. Muitos artistas só recomendam pintura com mídias específicas, mas eu te digo que pode usar a boa e velha folha de papel sulfite (aquela de imprimir que vem em pacotes de 500) e até folhas de cadernos antigos. Talvez o papel fique todo enrugado, talvez até rasgue, mas isso faz parte do processo. Assim, a criança aprenderá a não usar tinta em excesso e também saberá lidar com fragilidades, adquirindo o tão desejado tato fino.

A única dica mais séria é que tome cuidado com o tipo de tinta — certifique-se de que é atóxica — e que tanto ela quanto os pincéis são adequados para a idade da criança.

Colagem

Recortar e colar. Fazemos tanto isso no meio digital que até nos esquecemos do tradicional. Pegue revistas antigas, corte pessoas, objetos, animais, edificações e deixe a criança montar uma única imagem com a combinação que desejar.

Legal também criar personagens utilizando várias partes de imagens, colando-os em papel mais grosso para que virem fantoches e, assim, podendo criar histórias para contar em forma de teatro.

Outra dica interessante com papel é fazer origamis, meu filho adora esse canal:

Fotografia

Você não tem uma câmera fotográfica em casa? Aposto que tem! Inclusive pode até estar lendo essa postagem num dispositivo que tira fotos. Sim! O celular é também uma câmera e dá para fazer, por exemplo, uma caminhada fotográfica pelos cômodos da casa buscando ângulos diferentes e mostrando o que a família não percebe todos os dias.

Outra forma legal de usar a fotografia é montar cenários com os brinquedos e fazer imagens bem próximas ao chão. Dessa forma, os brinquedos aparecerão grandes e vívidos nas fotos.

Dá também para realizar animação stop-motion, que consiste em fazer uma foto a cada movimento e depois mesclar em vídeo, como no exemplo abaixo:

Por hoje é só!

Há muito mais possibilidades e eu listei somente algumas aqui, à medida que for lembrando — ou aprendendo — compartilharei. Se você também quiser sugerir algumas, vou adorar experimentar e recomendar.

O importante é que fiquemos em casa, seguros, cuidemos de nossa família e que possamos sair dessa ilesos e cheios de carinho, amor, saúde e muito aprendizado.

Também, para ajudar a comunidade, vou reativar meu canal no YouTube e produzir material em vídeo ensinando arte digital para todas as idades. Inscreva-se lá e ative as notificações para que receba o conteúdo em primeira mão assim que for lançado.

Um forte abraço virtual e espero que nos encontremos pelas ruas quando toda essa pandemia acabar.

Por Julio Sardinha

Olá, 100%? Sou Julio Sardinha, artista digital, adoro compartilhar experiências de aprendizagem e sou conhecido por transformar ideias e sonhos de pessoas em realidade.

Uma resposta em “Como manter as crianças aprendendo e criando em tempos de quarentena”

[…] Bem, claro que posso contribuir com mais e tenho feito isso. Desde que toda essa situação começou, tenho atualizado semanalmente meu canal com vídeos educativos e em março do ano passado publiquei em meu site um guia para pais que estão com as crianças em casa e desejam proporcionar horas de diversão e aprendizado em diversas áreas. Se esse é seu caso, vale a pena dar uma conferida, pois o conteúdo continua atual. (https://js.art.br/criancas-em-casa/) […]

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